Há meses venho começando e largando textos pela metade que pretendia postar aqui. Escrevi sobre a volta dos blogs, sobre livros que li, sobre os filmes que tenho assistido para o aquecimento do Oscar e sobre um monte de outros assuntos mais ou menos banais, mais ou menos importantes, que preencheram meus últimos dias e pensamentos. Mas nenhum desses textos chegou ao fim. Nenhum deles viu a luz do dia porque a vontade e o foco para terminar essas histórias sempre perdia forças antes do último ponto final.

Ainda que eu ache essencial ver, consumir e escrever sobre coisas que tirem meus pensamentos ao menos momentaneamente da pandemia, parecia que quando eu sentava para escrever no computador fora do horário de trabalho, nada era poderoso o suficiente para me manter entretida. Como se no meio do processo, minha cabeça sempre voltasse para o que tem acontecido nesses últimos tempos, sobre a incerteza e pavor que tenho sentido, e sobre o acúmulo de dias mais ou menos iguais que tenho vivido. E, diante de tudo isso, quão banal não pareciam ser aquelas linhas que eu havia digitado no docs? Qual o sentido de escrever sobre uma história fictícia llda no kindle, enquanto vivíamos nossa própria história de terror por aqui?
Demorou para eu entender que as coisas não precisavam ser assim. Que escrever sobre algo que não fosse o caos, no meio do caos, talvez fosse exatamente o que eu precisava para conseguir atravessar esse momento sem ser sugada pela tristeza. E que se antes, durante ou depois eu também precisasse desabafar sobre os meus medos e sobre tudo o que tem acontecido, estava tudo bem. Afinal, estamos com a vida em suspenso há mais de um ano. Perdi pessoas próximas, conto os dias para ver meus pais sendo vacinados, tenho medo de morrer dia sim e dia não também, e vi a pandemia tirar de mim coisas que sei que nunca vão voltar.
A vida não é mais a mesma e acho que é normal que meus textos reflitam isso. Seja em relatos pessoais como esse, em que as palavras não fazem muito sentido, mas que eu uso como uma forma catártica de entender a vida, ou em textos pausados, que demoro dias para escrever porque preciso respeitar meu tempo, mas que também não larguei para trás apenas por achar irrelevante diante do mundo lá fora.
Afinal, nada é tão irrelevante assim se me faz sossegar por alguns minutos e tirar, mesmo que momentaneamente, minha cabeça de um lugar ruim.

Em um dos últimos textos postados aqui no blog cheguei a falar sobre a pandemia. Era maio de 2020, estávamos há três meses em casa e fiz um desabafo sobre aquelas dias.
Era um medo legítimo o que eu sentia, obviamente, mas hoje em dia, quando olho para trás, vejo que era um medo ainda coberto de esperança de que em breve as coisas melhorariam. De que estávamos vivendo o pior naquele momento e o que o fundo do poço já havia sido alcançado.
Eu não fazia ideia do que estava por vir. E agora, passado quase um ano, sinto que vivi uma vida inteira desde então, com o mundo mudando muito, infelizmente não para melhor.

Esse texto não tem pé nem cabeça, da mesma forma como nossas vidas estão neste momento. Mas eu sentia que precisava botar pra fora essa confusão de pensamentos que têm cruzado a minha cabeça e que me assola todos os dias quando deito a cabeça no travesseiro.
Quem sabe da próxima vez eu volte aqui falando sobre o Oscar, a volta dos blogs ou algum livro que li.
Até lá se cuidem, fiquem em casa e sintam-se abraçados.
Quanto tempo! também estou retornando ao blog, mas muito aos poucos.
Seu blog é muito lindo e gostoso de ler! Tem Twitter? Queria te seguir…