Este texto é de 2011 e já foi postado em um antigo blog de moda que eu tinha e nem tá mais no ar, mas como eu o amo muito resolvi trazê-lo pra cá. Espero que vocês gostem!
Sempre me pego pensando no que beleza realmente significa pra mim. O que realmente enxergo em alguma coisa, pessoa ou situação pra dizer que aquilo é belo. Talvez seja sua essência, talvez suas cores, talvez a forma como me atinja e me faça pensar. Beleza pode ter uma série de significados e sentidos pra mim e, se pra mim, apenas uma entre milhões que habitam esse planeta, beleza não é apenas uma coisa, mas inúmeras coisas que se misturam e se confundem, como a gente pode acreditar que exista um padrão de beleza universal? E não, não to falando apenas de beleza física ou intelectual, porque podemos encontrar beleza nos costumes, nas épocas, no modo de caminhar, nas roupas, nas expressões, nas atitudes….
Se tamanha heterogeneidade me faz desprezar esse tão famoso padrão de beleza universal, me pergunto de onde ele surge, pra onde vai, mas o mais importante de tudo: quando e como quebramos essa chamada “beleza correta” vigente? Porque sim, esse chamado padrão também é cíclico, também é um tanto quanto efêmero e sai de cena quando alguém (ou algo) derruba o que é aceito pela maioria. E são essas pessoas que chacoalham nosso mundinho quadrado que me encantam.
Isso tudo porque, em um dia como outro qualquer, de repente alguém resolveu perguntar: “mas porquê isso também não é belo?”
Podemos começar olhando lá atrás, ainda no Renascimento. O corpo começou a ser muito estudado na época, em áreas que iam da antropologia até a pintura, por ser uma das bases do movimento Renascentista. E aí que, numa época em que a desigualdade social era massacrante, a importância da posição social e do satus era tão forte que a ideia que se fazia de beleza física vinha associada a isso. No caso das mulheres, que ficavam muito mais tempo enfurnadas em seus grandes palácios – muito mais do que os homens – comida em excesso era normal. Ter muita comida, poder comer muito era sinônimo de dinheiro, poder, status mesmo e, assim, bonitas eram as mulheres mais roliças, com braços mais fortes e com um corpo que demonstrasse literalmente os excessos da vida no reino.
Através da pintura a gente consegue entender muito bem esse espírito de beleza da época

Essa é uma das imagens mais fortes de mudança nos padrões de beleza físico que já tivemos. Foi uma mudança drástica, influenciada pelos costumes, pela saúde, pela preocupação com o bem-estar não só da cabeça, mas também do corpo. E se hoje tem muita menina com medo dos ponteiros da balança (uma preocupação normal, ok? Não me refiro a questões médicas como anorexia, bulimia, etc), a gente vê nessas imagens uma quebra de valores enorme, profunda.
Mas não parou por aí. Outras mudanças viriam.
E pra começar, ninguém melhor do que ela, dona madeimoselle Chanel, pra tirar um sarro desse tal ”padrão de beleza” reinante.
Até Chanel chegar – ela fundou sua primeira casa em 1909 – e deixar as francesas atônitas com suas peças minimalistas e que emprestavam muita inspiração do armário masculino, o espartilho, as joias e um sem fim de exuberância reinavam na França. Portanto, se antes a tal beleza vigente vinha traduzida no físico com a mulheres renascentistas mais roliças, agora vinha no vestuário, com as mulheres cada vez mais “enfeitadas”, presas e limitadas dentro de suas roupas. Mas aí chegou Coco Chanel mostrando que a liberdade também podia – e devia – ser beleza.
Se a gente der um salto maior ainda, vamos ver lá na década de 80 uma outra quebra de padrão de beleza. Vindo de uma pessoa que, particularmente, eu admiro e acho um estouro de modelo. Kate Moss, quem mais poderia ser?
Na década de 80 as modelos que faziam sucesso estavam bem longe do tipo físico que a gente vê nas passarelas de agora. Só pra ter uma ideia, os nomes iam de Cindy Crawford até Naomi Campbell, mostrando modelos com um visual mais bombshell, mais curvilíneo mesmo.

Aí Kate Moss apareceu com seus 15 anos num ensaio histórico para a revista britânica The Face. Em fotos p&b em que aparecia semi-nua, o mundo viu uma garota esquálida, com um Q de androginia e uma beleza bastante diferente aparecer. O editorial chamado “O terceiro Verão do Amor” rendeu um falatório imenso na época. Afinal, quem era aquela menina?
Hoje, numa rápida pesquisa sobre sua vida, a palavra antimodelo aparece aos montes, exatamente porque Kate conseguiu se destacar como o belamente estranho naquele mundinho tão “perfeito” das passarelas. Acho uma revolução linda. Acho que talvez nem ela mesma tivesse noção do que a sua aparência, o seu jeito meio menino, meio punk significasse. E óbvio que Kate Moss mudou muito dos seus 15 anos pra cá. Teve altos e baixos, – se envolveu com as drogas, foi julgada, demitida da Chanel, Burberry, H&M e H. Stern e, praticamente, viu sua vida pessoal e profissional ruir diante de seus olhos – mas continua aí, linda e com uma imagem muito forte.

A mudança que Lara Stone trouxe pode até parecer menor, mas acho que é uma mudança significativa também, em vários pontos. Ela não foi a primeira menina com diastema a ser um estouro no mundo da moda – Brigitte Bardot já dava escola muito antes dela – mas acho que talvez tenha sido a primeira que soube usar isso como seu ponto forte, um considerado ‘defeito’ de beleza.
Se a Lara Stone soube aproveitar isso, que já nasceu com ela – e é claro que não foi apenas os dentes da frente separados que a transformaram no que ela é hoje – porque você também não faz o mesmo contigo? Não falo apenas de beleza física aqui, mas qualquer tipo de beleza singela e verdadeira que cada um tem de uma maneira diferente.
São essas pequenas belezas diferentes, esses pequenos brilhos que tornam a vida mais rica. De cores, pessoas e atitudes.
Ps: as imagens de mulheres dos anos 1910 e 1920 não são de minha autoria. Eu tinha as imagens salvas aqui nos arquivos do meu antigo blog, mas não consegui achar os créditos :/ Se você for o dono da montagem é só deixar um comentário aqui que eu vou ficar bem feliz de creditá-la!
Que delícia de texto! Tão difícil definir o que é beleza para a gente, né? Mas acho que você falou tudo, é uma mistura de belezas, de ideias, de atitudes… Belíssimo post!
Artigo muito interessante. O sentido de beleza realmente deve ser analisado.
O que estabelece o padrão de beleza no período do renascimento?